sexta-feira, 7 de abril de 2017

EXODUS E ANTHRAX: Ruindo o Muro ao som do metal


CHANGING OF THE GUARD (EXODUS - Impact is Imminent - 21 de junho de 1990)


ONE MAN STANDS (ANTHRAX - Persistence of Time – 21 de Agosto de 1990)

Um marco na história mundial, e mais sensivelmente, na história recente do século XX, a queda do muro de Berlim, que teve seus primeiros tijolos retirados em 9 de novembro de 1989, impactou toda uma geração que cresceu em um mundo nitidamente divido pela Guerra Fria.

Como qualquer representação artística, a música não é descolada de sua realidade histórica, muito pelo contrário, ela traz elementos representativos de um momento da humanidade. Com certeza esse gigantesco acontecimento foi representado – não necessariamente da mesma maneira - por músicas da cena do heavy metal e, especificamente nesse artigo, no thrash metal nos inícios dos anos 1990.

Com 10 anos na estrada EXODUS e ANTHRAX configuravam-se como ícones do autêntico e clássico thrash metal quando o muro veio a baixo, a primeira advinda da “mitológica” bay area na Califórnia e a segunda de New York.

Nesse ano essas bandas lançaram, respectivamente, Impact is Imminent (21/07/1990) e Persistence of Time (21/08/1990) que, além de excelentes músicas abordando diversos temas como violência, vida na estrada, etc., não poderiam deixar de dedicar uma faixa para retratar esse acontecimento histórico. Changing of the Guard (EXODUS) e One Man Stands (ANTHRAX) foram as músicas escolhidas pelas bandas.

A faixa do EXODUS prima pelo lado político que o fim da Alemanha Oriental representava para o mundo. Assim, os thrashers da bay area apresentam um mundo dominado por um ditador avarento que divide somente com sua esposa as riquezas e benesses da vida. No entanto, a “mesa virou” e “a revolução tirou o rei do seu trono”, acabando com a tirania ao executar o antigo governante. Para eles o mundo clama por democracia e já passou do tempo de transformar o comunismo nessa forma de governo, sendo impossível conter essa força que irá acabar com a divisão do mundo, até porque a “liberdade é contagiosa e está se espalhando” por ele. A queda do muro significa o fim das divisões entre os seres humanos e ela foi alcançada pelo sacrifício de muitos que tentaram, sem sucesso, atravessar suas paredes. Ela é, portanto, uma conquista do povo.

Dessa maneira, a representação apresentada pela música do EXODUS é que foi pela conquista de povo que o muro ruiu, sendo aberta a democracia e liberdade para eles, no qual as divisões já não existem mais. O discurso então é direcionado para uma nova forma de organização política baseado na liberdade dos indivíduos.

Por outro lado, a música do ANTHRAX tem um tom mais festivo que político, talvez pela característica humorística da banda, é uma comemoração ao fato do “inimigo estar morto”. Ele estava escondido da verdade do mundo – atrás dos muros - até que esse foi demolido e o direito humano a liberdade foi, enfim, tornado livre. O que é necessário agora é destruir os ícones das “ideias retrogradas”, pois agora “a ovelha não teme o lobo, mas ela pega o que quer”.

Assim como na música anterior, essa liberdade é uma conquista, mas não é especificado uma conquista de quem, pois o agente dessa ação é chamado de “um homem que fica em pé”. Assim, o mesmo pode ser interpretado como a associação genérica chamada povo ou ao próprio Estados Unidos.

Portanto, há duas constantes nas faixas abordadas: liberdade e conquista da mesma pelo povo. No entanto, ambos os conceitos são trabalhados diferentes pelas bandas.

Na música do EXODUS liberdade está associada a questão da organização política decorrente da estagnação da URSS, organização essa que é demandada pelo mundo inteiro, ou seja, a democracia. Por outro lado, os músicos do ANTHRAX veem esse conceito como a livre escolha, liberdade religiosa, etc., não sendo associada diretamente a uma forma de organização política, mas direcionada a um sentido individual de liberdade.

O outro ponto comum abordado pelas músicas se refere a queda do muro como uma conquista do povo (embora saibamos que não necessariamente o foi). Aqui há também dois sentidos entre as letras, pois na primeira o conceito povo é apresentado como uma categoria genérica “O POVO”, enquanto para os nova-iorquinos a mesma é representada pela figura de um HOMEM, embora não saibamos quem é ele.

Assim é possível vermos que diante de um acontecimento histórico as visões e representações criadas pelos contemporâneos do ocorrido são diferentes. Embora os conceitos utilizados para demonstrar o fato sejam os mesmos, seu sentido não o é.

Também que é importante notar que havia uma certa euforia com o acontecimento, fazendo com que a forma como ele era visto (pelo menos nesses dois casos) fosse positivo para o mundo. Mal sabiam as bandas que conceitos como democracia e liberdade seriam justificativas de intervenções militares e guerras no início do século vindouro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário