CHANGING OF THE GUARD (EXODUS - Impact is Imminent - 21 de junho de 1990)
ONE MAN STANDS (ANTHRAX - Persistence of Time – 21 de Agosto de 1990)
Um marco na história mundial, e mais sensivelmente, na história
recente do século XX, a queda do muro de Berlim, que teve seus primeiros
tijolos retirados em 9 de novembro de 1989, impactou toda uma geração
que cresceu em um mundo nitidamente divido pela Guerra Fria.
Como qualquer representação artística, a música não é descolada
de sua realidade histórica, muito pelo contrário, ela traz elementos
representativos de um momento da humanidade. Com certeza esse gigantesco
acontecimento foi representado – não necessariamente da mesma maneira - por
músicas da cena do heavy metal e, especificamente nesse artigo, no thrash metal
nos inícios dos anos 1990.
Com 10 anos na estrada EXODUS e ANTHRAX configuravam-se como
ícones do autêntico e clássico thrash metal quando o muro veio a baixo, a
primeira advinda da “mitológica” bay area
na Califórnia e a segunda de New York.
Nesse ano essas bandas lançaram, respectivamente, Impact is Imminent (21/07/1990) e Persistence of Time (21/08/1990) que,
além de excelentes músicas abordando diversos temas como violência, vida na
estrada, etc., não poderiam deixar de dedicar uma faixa para retratar esse
acontecimento histórico. Changing of the Guard (EXODUS) e One Man Stands (ANTHRAX) foram as
músicas escolhidas pelas bandas.
A faixa do EXODUS prima pelo lado político que o fim da Alemanha
Oriental representava para o mundo. Assim, os thrashers da bay area
apresentam um mundo dominado por um ditador avarento que divide somente com sua
esposa as riquezas e benesses da vida. No entanto, a “mesa virou” e “a
revolução tirou o rei do seu trono”, acabando com a tirania ao executar o
antigo governante. Para eles o mundo clama por democracia e já passou do tempo
de transformar o comunismo nessa forma de governo, sendo impossível conter essa
força que irá acabar com a divisão do mundo, até porque a “liberdade é
contagiosa e está se espalhando” por ele. A queda do muro significa o fim das
divisões entre os seres humanos e ela foi alcançada pelo sacrifício de muitos
que tentaram, sem sucesso, atravessar suas paredes. Ela é, portanto, uma
conquista do povo.
Dessa maneira, a representação apresentada pela música do EXODUS
é que foi pela conquista de povo que o muro ruiu, sendo aberta a democracia e
liberdade para eles, no qual as divisões já não existem mais. O discurso então
é direcionado para uma nova forma de organização política baseado na liberdade
dos indivíduos.
Por outro lado, a música do ANTHRAX tem um tom mais festivo que
político, talvez pela característica humorística da banda, é uma comemoração ao
fato do “inimigo estar morto”. Ele estava escondido da verdade do mundo – atrás
dos muros - até que esse foi demolido e o direito humano a liberdade foi,
enfim, tornado livre. O que é necessário agora é destruir os ícones das “ideias
retrogradas”, pois agora “a ovelha não teme o lobo, mas ela pega o que quer”.
Assim como na música anterior, essa liberdade é uma conquista, mas não é
especificado uma conquista de quem, pois o agente dessa ação é chamado de “um
homem que fica em pé”. Assim, o mesmo pode ser interpretado como a associação
genérica chamada povo ou ao próprio Estados Unidos.
Portanto, há duas constantes nas faixas abordadas: liberdade e
conquista da mesma pelo povo. No entanto, ambos os conceitos são trabalhados
diferentes pelas bandas.
Na música do EXODUS liberdade está associada a questão da
organização política decorrente da estagnação da URSS, organização essa que é demandada
pelo mundo inteiro, ou seja, a democracia. Por outro lado, os músicos do
ANTHRAX veem esse conceito como a livre escolha, liberdade religiosa, etc., não
sendo associada diretamente a uma forma de organização política, mas
direcionada a um sentido individual de liberdade.
O outro ponto comum abordado pelas músicas se refere a queda do
muro como uma conquista do povo (embora saibamos que não necessariamente o
foi). Aqui há também dois sentidos entre as letras, pois na primeira o conceito
povo é apresentado como uma categoria genérica “O POVO”, enquanto para os
nova-iorquinos a mesma é representada pela figura de um HOMEM, embora não
saibamos quem é ele.
Assim é possível vermos que diante de um acontecimento histórico
as visões e representações criadas pelos contemporâneos do ocorrido são
diferentes. Embora os conceitos utilizados para demonstrar o fato sejam os
mesmos, seu sentido não o é.
Também que é importante notar que havia uma certa euforia com o
acontecimento, fazendo com que a forma como ele era visto (pelo menos nesses
dois casos) fosse positivo para o mundo. Mal sabiam as bandas que conceitos
como democracia e liberdade seriam justificativas de intervenções militares e
guerras no início do século vindouro.
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