sábado, 18 de março de 2017

NERVOSA, AGONY-2016 – NAPALM RECORDS



Qualidade técnica e lírica não falta ao trio paulistano desde o lançamento em 2014 do seu primeiro álbum Victim of yourself (NAPALM RECORDS, 2014). Nesse disco o mundo conheceu a força e agressividade da banda, proporcionando a mesma grande notoriedade na cena mundial do thrash metal e uma grande turnê pela Europa, EUA e América Latina.

Nesse segundo disco estão mantidos os parâmetros anteriores: agressividade, técnica e composição, bem como a temática de discussão dos problemas sociais, políticos, etc.

No entanto, as temáticas em Agony são voltadas mais para conceitos como igualdade, intolerância, liberdade, corrupção, ódio, tecnologia. Enquanto os temas abordados no disco anterior eram mais diretos e pontuais: violência, desordem social, miséria.

Nas letras são apresentadas mensagens marcantes, muitas delas utilizando inteligentes jogos, algumas vezes antagônicos, entre as palavras:

“Is it right to think what you think is right?”
Arrogance

“A naked truth
Or a well-dressed lie?
An honest fool
Or a clever liar?”
Deception

“Dialogue is freedom
Intolerance is war”
Intolerance Means War

“Ignorância não é ser diferente
Ignorância é ser indiferente”
Guerra Santa

Embora várias músicas trabalhem os conceitos abstratos acima detalhados, temos também algumas que são diretas em seu objeto de crítica. Nesse caso destaco Hostagens e Guerra Santa. A primeira discute a forma como as pessoas são prisioneiras/reféns de um sistema de saúde público falido e negligente, ao qual, segundo a música, não há remédio para o sofrimento e a tortura. Na segunda, cantada em português, a temática é clara já em seu nome: crítica a manipulação e intolerância religiosa.

Diante de todo esse cenário abordado pelo disco, há um ponto um pouco contraditório quando a frase “The truth's unclear but the truth is only one” é entoada na música Hypocrisy. Enquanto a diferença e pluralidade é afirmada como algo positivo nas outras músicas, e que a opinião é unicamente um ponto de vista, não a verdade, nesse refrão há exatamente o oposto, pois é cantado que existe somente uma verdade. Talvez a ideia da frase seja afirmar que essa única verdade é que somos hipócritas, pois esse é o “refrão” tocado logo após.

O importante a ser frisado é que há uma grande carga crítica em todo o álbum que está em sintonia com as discussões vivenciadas no mundo (imigração por guerra, intolerância religiosa, de gênero, etc.). Essa, aliás, é uma característica da nova geração do thrash metal que está conectada diretamente com os dilemas do mundo moderno.

Analisando a parte musical, temos um thrash metal clássico: velocidade, riffs, aceleração/desaceleração, tudo muito bem casado com o vocal gutural rasgado e a linha de bateria e baixo. Esse, aliás, segue, em quase todas as músicas, os riffs da guitarra, preenchendo o som e acrescentando os grooves, embora algumas vezes seja difícil distinguir claramente suas notas no meio das músicas.

Pensando nos riffs destaco as músicas “Failed System”, “Hostages”, “Surrounded by Serpents” e “CiberWar”. Essa última apresenta uma abertura muito diferente das outras, sendo feita com um riff “alegre” no baixo, para depois cair em um estrondo de guitarra e bateria. Nas outras faixas a mudança de tempo e das frases da guitarra demonstram a influência da escola clássica do thrash metal, que estabelecem os limites nos quais a banda demonstra sua criatividade, originalidade e técnica. 

Focando na guitarra, é preciso frisar que a base é muito bem construída e executada, sendo tocada com muita técnica e precisão em cada detalhe, muitos deles difíceis de serem aplicados, principalmente quando tratamos desse gênero que emprega muita velocidade nos arranjos.

Todavia, os solos, que também é outra característica praticamente implícita a esse estilo musical, deixaram um pouco a desejar, na minha opinião, por 2 motivos principais:

1 – Volume/Nitidez: os solos não estão nítidos e audíveis em primeiro plano, ficando misturado com o restante dos instrumentos e da guitarra base em overdub;

2 – Frases/Escalas: o que pude notar é que, embora a guitarra seja excepcional na base, o solo é simples e um pouco repetitivo, muito preocupado com a velocidade do andamento da música do que com a sonoridade advinda das escalas e construção de arpejos.

No aspecto geral, esse álbum é excelente, possuindo todos os elementos de um disco clássico de thrash metal, mas cheio de características modernas de criação e sonoridade. É um grande degrau na evolução da banda como referência mundial no gênero.

Ficha Técnica
Lançamento - 3 de junho de 2016
Gravadora - Napalm Records Handels GMBH
Lançamento Brasil - Shinigami Records
Produtor - Brendan Duffey
Mixagem e Masterização - Andy Classen

Banda
Fernanda Lira - Vocal e Baixo
Prika Amaral - Guitarra
Pitchu Ferraz - Bateria